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terça-feira, 6 de julho de 2010

O FUTEBOL SERGIPANO: DA AFIRMAÇÃO SOCIAL À DERROCADA


O Futebol brasileiro, uma adaptação cultural do football association trazido da Inglaterra em fins do século XIX, desenvolveu-se conjuntamente aos ventos de modernização da sociedade brasileira nos seus âmbitos políticos, econômicos e culturais. Das flutuações políticas dos governos oligarcas, passando pelas ditaduras nacionais, até a tentativa de democratização da Nova República, bem como do desenvolvimento do modo de produção capitalista sobre bases sólidas, o futebol tornou-se um dos mais icônicos reflexos da identidade do povo brasileiro. Em meio ao fortalecimento do futebol brasileiro, tensões culturais como movimentos dos trabalhadores, a afirmação da raça negra e das mulheres no cenário social, a latente religiosidade dos gramados, a afirmação do nacionalismo (da Nação propriamente dita e da “nação clubística”), o desenvolvimento do urbano e a reconfiguração do meio rural demarcaram a história brasileira.
Reflexo dos ares sociais e políticos, o Futebol brasileiro, desde a última década do século XX, vem tentando libertar-se das amarras corporativas e viciadas que o vinculam aos aparelhos de Estado, sustentando vícios privados mediante a sangria do público (a Confederação Brasileira de Futebol é o maior exemplo dessa sangria), e tentando construir uma moderna forma de administração com um campeonato nacional sólido, com clubes que possam conduzir suas finanças de modo equilibrado angariando fundos na iniciativa privada. Ainda que o Estado continue a sustentar os vícios (via “Time mania”, por exemplo), é notório o desenvolvimento administrativo do campeonato nacional de Futebol, bem como a administração de certos clubes, mais equilibrados historicamente. A participação e o sucesso dos clubes em campeonatos internacionais, a exemplo da Libertadores da América e do Mundial Interclubes FIFA, na última década, tem sido notório. Não obstante, tal movimento acirrou uma mácula histórica nacional, a disparidade do desenvolvimento regional entre o Sul-Sudeste e o Norte-Nordeste. Os campeonatos dessa região e a participação dos seus clubes nos campeonatos nacionais tem sido pífios, desvelando um abismo entre o profissionalismo e um semi-profissionalismo, entre o espetáculo esportivo moderno e as mambembes pelejas locais.
Em Sergipe esse quadro é patente. Um campeonato local enfraquecido. Clubes falidos. Administrações que se perpetuam nos clubes e na Federação local reveladoras dos mesmos vícios públicos do século passado. Vínculos à manutenção da estrutura geral da CBF à custa de benefícios políticos e doações financeiras para benefício privado, como comprovou o Relatório final da CPI CBF-Nike (2000). Inexistente participação dos clubes locais no cenário futebolístico nacional.
Quais as causas da derrocada do futebol do Norte-Nordeste, especialmente o sergipano, em meio ao fortalecimento do futebol nacional, leia-se do Sul-Sudeste? Os problemas centrais são de má administração esportiva ou revelam efetivamente as distâncias históricas entre a “metrópole” e o “interior”? Face ao desenvolvimento do profissionalismo no futebol brasileiro, como caracterizar o futebol sergipano: profissional, amador ou uma hibridização entre os dois? Um reflexo cultural ou uma determinação sócio-histórica do desenvolvimento nacional?